Ciência explica por que é difícil tratar anorexia
Estudo da Nature Neuroscience afirma
que doença pode ser um hábito enraizado -- o que explicaria o fato de
tratamentos, como o uso de antidepressivos e a terapia cognitiva, não
funcionarem tão bem
13/10/2015 às 17:30 - Atualizado em 13/10/2015
às 17:47
Ao tomarem decisões relacionadas à
alimentação, pessoas com anorexia têm sua parte cerebral relacionada ao
comportamento habitual mais ativada, o que sugere que suas decisões são
automáticas, baseadas em hábitos adquiridos(Thinkstock/VEJA)
A
anorexia pode ser um hábito bem enraizado, extremamente dificil de ser mudado.
A constatação de um estudo publicado recentemente na revista científica Nature Neuroscience sugere que os doentes agem automaticamente -- e não
pesando os prós e contras da decisão de não comer.
De
acordo com o jornal americano The
New York Times, a conclusão pode ajudar a explicar
por que este transtorno alimentar, que tem a maior taxa de mortalidade de
qualquer doença mental, é tão difícil de tratar. Nem medicamentos
psiquiátricos, nem sessões de terapia - medidas bem sucedidas no tratamento de
outros distúrbios alimentares - ajudam na maioria dos casos de anorexia.
"O
problema das pessoas com anorexia nervosa é que elas não conseguem parar. Elas
começam o tratamento dizendo que querem melhorar, mas não conseguem",
disse Joanna E. Steinglass, pesquisadora da Universidade Columbia, nos Estados
Unidos e coautora do estudo, ao The
New York Times.
O
estudo teve como base um artigo publicado em 2013 que sugeria que, nas mulheres
vulneráveis à anorexia, a perda de peso inicialmente serve como uma recompensa
para aliviar a ansiedade e melhorar a autoestima. Mas, com o passar do tempo, a
própria dieta passa a ser a recompensa. Para comprovar a teoria os
pesquisadores escanearam, por meio de ressonância magnética, o cérebro de 42
mulheres (21 com anorexia e 21 saudáveis) enquanto elas tomavam decisões
relacionadas à alimentação.
Os
resultados mostraram que as participantes anoréxicas estavam mais propensas a
escolher alimentos com baixo teor de gordura e menos calorias, em comparação
com as saudáveis. Elas também tendiam a não considerar alimentos altamente
calóricos como "saborosos".
Por
sua vez, a análise cerebral mostrou que tanto as anoréxicas quanto as mulheres
saudáveis tiveram a área do centro de recompensa ativada. No entanto, nas
participantes com o distúrbio os cientistas identificaram uma atividade mais
intensa no corpo estriado dorsal, região envolvida com o comportamento
habitual, o que sugere que elas estavam agindo automaticamente com base em um
hábito e não pesando os prós e contras daquela decisão.
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"Isso
ajuda a explicar porque os tratamentos comumente utilizados, como
antidepressivos e terapia cognitiva, não funcionam muito bem. Hábitos têm de
ser substituído por outro comportamento.", explica B. Timothy Walsh, autor
do artigo base da pesquisa e coautor do novo estudo, ao The New York Times.
De
acordo com os autores, os resultados deste estudo trazem evidências de que os
circuitos cerebrais envolvidos nos comportamentos habituais desempenham um
papel importante em doenças nas quais os pacientes persistem em fazer escolhas
autodestrutivas independentemente das consequências, como o vício em cocaína ou
o jogo compulsivo.
Anorexia nervosa - A
anorexia nervosa é caracterizada por uma recusa de manter um corpo saudável,
pelo medo de ganhar peso, pela busca pela magreza e por preocupantes imagens e
percepções de si mesmo. Geralmente, o problema é diagnosticado em pacientes do
sexo feminino, com idades entre 15 e 19 anos.
(Da redação)
FONTE VEJA