Boris Johnson, o grande vencedor do Brexit, quer o
emprego de Cameron
Em 2015, quando enfrentou o trabalhista Ed Miliband
nas eleições, Cameron talvez não pudesse imaginar que seu mais perigoso rival
seria alguém de seu próprio partido
24/06/2016 às 15:51 - Atualizado em 24/06/2016
às 17:40
O prefeito de Londres, Boris Johnson, no topo da torre Orbit, no Parque
Olímpico(Christopher
Lee/Getty Images/VEJA)
O ex-prefeito de Londres, Boris
Johnson, foi o principal nome da campanha pela saída do Reino Unido da União
Europeia (UE) e nesta sexta foi saudado por seus colegas e pela imprensa local
como o grande vencedor político do referendo. Após a confirmação oficial do
resultado, Johnson comemorou a "independência" de seu país:
"Podemos encontrar nossa voz no mundo novamente, uma voz que é
proporcional a da quinta maior economia da Terra". Aos 51 anos, o político
é cotado como favorito dentro do Partido Conservador para substituir David
Cameron como primeiro-ministro.
No ano passado, quando enfrentou o
trabalhista Ed Miliband nas eleições gerais, Cameron talvez não pudesse
imaginar que seu mais perigoso rival político seria alguém de seu próprio
partido, e ainda que ele seria um velho colega de escola. A relação de Johnson
com o atual premiê data de antes do início de suas carreiras políticas. Os dois
se conheceram na escola de elite Eton College e cursaram a Universidade de Oxford
juntos. Foi também durante seus anos de educação que Johnson, filho de
britânicos nascido em Nova York, nos Estados Unidos, teve os primeiros contatos
com a alta sociedade do Reino Unido.
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Contudo, os dois amigos escolheram
lados opostos após o anúncio do referendo, feito durante a campanha política de
2015. Ao longo de toda a maratona que antecedeu a consulta popular, Johnson e o
atual primeiro-ministro discordaram em quase todas as suas declarações. O
ex-prefeito chegou a dizer que as afirmações de Cameron sobre as consequências
da saída britânica da UE eram "enganosas e mal-intencionadas" para
convencer o povo a votar a favor da permanência.
A ironia é que o euroceticismo bem
articulado e distante da ferocidade de Nigel Farage (líder do partido
ultranacionalista Ukip) vem de um homem muito ligado às instituições europeias.
O pai de Boris Johnson, Stanley, que defendia a permanência na UE, foi deputado
pelo Partido Conservador e trabalhou na Comissão Europeia. Boris foi aluno da
Escola Europeia de Bruxelas antes de entrar para o Eton e conheceu também a
máquina burocrática da UE por dentro, atuando como jornalista.
Antes de ser eleito prefeito de
Londres, em 2008, Johnson trabalhou no jornal Daily Telegraph e entre
1989 e 1994 foi correspondente em Bruxelas, favorecendo histórias que
alimentavam o euroceticismo em casa. Tornou-se então o jornalista favorito da
primeira-ministra Margaret Thatcher, graças a artigos que ridicularizavam as
instituições europeias e caricaturavam seus regulamentos extremamente
detalhados. Durante todo esse período, conseguiu construir sua reputação com
críticas ácidas e piadas sobre o bloco europeu. Em 2008, ele foi eleito
prefeito de Londres e seu estilo bonachão e pragmático, dosando gírias
populares e citações em latim, garantiram a reeleição em 2012. Johnson deixou o
comando da prefeitura no início deste ano com ótimos índices de aprovação. Com
tempo livre, passou a dedicar-se exclusivamente à campanha do Brexit.
Com fama de histriônico e um senso de
humor louvado até por seus críticos, Johnson é o típico conservador à moda
britânica: partidário do Estado mínimo e da pouca intervenção estatal na
sociedade. Ele também é um ardoroso defensor das tradições do país, inclusive
das mais populares, como acompanhar um jogo de futebol em um pub bebendo litros
de cerveja em caneca.
O novo premiê será escolhido num
congresso dos tories em outubro, e até lá muita água ainda vai rolar na composição de forças
dentro da legenda. O Partido Conservador sai do referendo rachado, com muitas
disputas internas e mágoas que precisam ser aplacadas para apaziguar o ambiente
antes da formação do novo governo. Apesar das incertezas, uma coisa é certa: os
ex-colegas Johnson e Cameron vão continuar sentando em lados opostos da mesa de
negociações.
(Da
redação)
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